Sete meses depois, óleo volta a praias da Bahia
As manchas de óleo que, no final de agosto do ano passado, atingiram o litoral do Nordeste, voltaram a aparecer na praia de Itacimirim, em Camaçari, litoral norte da Bahia e que faz parte da região metropolitana de Salvador. De acordo com o grupo Guardiões do Litoral, pelo menos oito toneladas de óleo já foram recolhidas no local desde o início deste mês. As informações foram confirmadas pelo portal de notícias G1.
Segundo o grupo que, com apoio de voluntários, faz a retirada do óleo nas praias baianas, não se trata de novas manchas. Em entrevista à jornalista Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual, o professor do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo (USP) Wagner Ribeiro concorda e explica que o material faz parte dos resquícios que ficaram alojados em pedras e na areia por ser um óleo mais denso.
De acordo com o geógrafo, a dinâmica das marés que, ao longo do tempo, adquire maior ou menor capacidade de transportar sedimentos, fez com o óleo soterrado fosse arrastado. Os integrantes do Guardiões do Litoral estimam que outras 25 toneladas do material sólido ainda estejam soterrados. “É um material de grande volume e ao mesmo tempo de enorme impacto ambiental”, alerta Ribeiro.
Crustáceos e microorganismos que vivem naquela faixa litorânea foram diretamente prejudicados pelo desastre ambiental, aponta o geógrafo, o que deve provocar futuros impactos negativos em toda a cadeia alimentar e da reprodução da biodiversidade da região. Além disso, o professor também cita efeitos sobre o turismo e, principalmente, a contaminação dos pescados, o que deve afetar a economia da região.
“Isso demanda atenção das autoridades, mas a gente não tem assistido, infelizmente, uma resposta compatível, especialmente do governo federal”, contesta Wagner Ribeiro sobre a gestão de Jair Bolsonaro.
Nesta terça (10) na Câmara, durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura o vazamento de óleo nas praias do Nordeste, pescadores e pesquisadores da Bahia denunciaram a falta de respostas quanto à apuração das responsabilidades pelo desastre ambiental e sobre a dimensão do impactos da contaminação do ambiente e dos pescados para a saúde humana, além da inação dos órgãos públicos.
“Precisa retirar esse material e dar um destino adequado, e esse destino não é algo muito simples. Você não pode queimar – como o governo federal está querendo fazer. É preciso, ao mesmo tempo, avaliar os impactos dos resíduos que já estão nos microorganismos e nos pescados. Isso exige pesquisa, demanda e imediatamente suspender o consumo de crustáceos e peixes da região.”