Loja do aeroporto de Salvador vende cerâmicas de negros acorrentados e gera revolta na web
Peças de cerâmicas de negros escravizados foram encontradas à venda em uma loja no aeroporto de Salvador. As imagens dos itens foram divulgadas pelo historiador Paulo Cruz nas redes sociais, e gerou revolta entre os internautas nesta segunda-feira (7).
Segundo publicação do G1, o historiador é carioca, havia visitado Salvador, e estava no aeroporto para retornar ao Rio de Janeiro, onde mora. Indignado com as peças, Paulo afirmou que a imagem foi feita no final da tarde de domingo (6), no estabelecimento.
“Foi um choque tremendo né? Em primeiro lugar porque eu acho que é um tipo de coisa que não deve se comercializar em lugar nenhum, muito menos uma cidade como Salvador, principalmente depois da experiência que eu tive, vendo a vivência das pessoas pretas, dos movimentos e tudo mais”, contou o historiador em entrevista ao G1.
Os itens mostram homens e mulheres acorrentados pelas mãos, remetendo ao período escravocrata que durou até 1888 no Brasil. Ainda conforme a publicação, as peças estavam em uma das prateleiras da loja com a etiqueta: “Escravos cerâmica – R$ 99,90 a unidade”.
Após a repercussão, a loja Hangard das Artes justificou a venda da cerâmica por meio de nota de retratação e pediu desculpas as pessoas que se sentiram feridas e menosprezadas.
Leia a nota da loja na íntegra:
“A loja Hangar das Artes vem a público se retratar e esclarecer os fatos ocorridos na manhã de hoje (07/02/2022).
Trata-se de uma empresa que emprega inúmeras pessoas, atuante no mercado de artesanato e obras de arte há mais de 20 anos, comercializando e divulgando a confecção de obras de diversos artistas regionais, sempre incentivando a produção daquele pequeno artesão cujo seu sustento depende exclusivamente de sua arte.
Todas as obras que exibimos são voltadas para a exaltação da cultura e história baiana e brasileira. Nossa loja está localizada no Aeroporto de Salvador e sempre exaltou as diversas culturas, com ênfase na cultura africana, já que temos orgulho de demarcar que somos, provavelmente, a cidade mais negra fora de África. Sempre com muito respeito e admiração.
As imagens que estão circulando, de algumas de nossas esculturas, tratam-se da imagem do Preto(a) Velho(a) – espíritos que se apresentam sob o arquétipo de velhos africanos que viveram nas senzalas, majoritariamente como escravos, entidades essas que trabalham com a caridade e cuidam de todas as pessoas que os procuram para melhorar a saúde, abrir caminhos e ter proteção no dia a dia. Por isso, algumas das peças possuem correntes, na tentativa (ERRÔNEA) de retratar a história dessa entidade de maneira literal. Erramos na forma em que as peças foram expostas e em descrevê-los apenas como escravos, apagando, de certa forma, a história que carrega.