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Golpista se passa por médico do Hospital Ana Nery para cobrar por exames de pacientes

Estelionatário procura famílias por telefone e cobra quantias de até R$ 3 mil.

Imagine ter o pai na UTI de um hospital público com obstrução no coração e, por telefone, ser comunicado por um suposto médico de que é preciso desembolsar R$ 2,6 mil para exames de urgência. Foi isso que aconteceu, na terça-feira (13), com o chefe de cozinha Miguel dos Santos, 50 anos, filho de Crispiniano dos Santos, 86, que está internado no Hospital Ana Nery, em Salvador, desde o domingo (11).

Se apresentando com o nome de um médico de Salvador, um suposto chefe da UTI da unidade, o golpista afirmou para Miguel que os exames eram fundamentais para a sobrevivência de Crispiniano. “Ele disse que meu pai precisava urgente de exames que só poderiam ser feitos depois de três dias com o SUS. Por isso, eu deveria pagar para fazer em uma clínica parceira”, lembra. O nome e a foto que o golpista usa para falar com os familiares dos pacientes é de um cardiologista de Salvador que também é vítima desse golpe.

O chefe de cozinha recebeu essa ligação de São Sebastião do Passé, onde mora, e, no primeiro momento, não suspeitou de golpe. De acordo com ele, o suposto médico deu todas informações certas do pai e o convenceu. “Ele sabia de tudo do quadro de saúde do meu pai. O que ele tinha, as coisas que o médico tinha nos dito. Assim, não pensei em golpe”, fala. 

Segundo Miguel, pelo menos duas outras pessoas com parentes internados na UTI da unidade foram acionadas pelo golpista. Uma caiu no golpe e transferiu R$ 3 mil, outra não. Nos dois casos, porém, o suspeito passou informações condizentes com estado de saúde do paciente. Procurada pela reportagem, uma das vítimas não respondeu. 

Por pouco

A Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), responsável pela administração da unidade, afirmou que teve ciência da situação e reforçou que a cobrança por exames não é prática do hospital. “Nenhum colaborador que atua na Unidade tem autorização para fazer qualquer tipo de solicitação de pagamento para realização de procedimentos, exames ou consultas”, escreve por meio de nota.

A pasta ressaltou ainda que informa no hospital a inexistência de cobrança por exames em clínicas parceiras. “Estamos intensificando a divulgação de tais informações nos murais digitais do Hospital, bem como nos principais pontos de atendimento ao público (Recepção, UTI, Serviço Social e Ouvidoria), por meio da distribuição de panfletos aos familiares de pacientes”, declara a secretaria. 

Foi justamente o mural digital que livrou Miguel de cair no golpe. Depois do primeiro contato, enquanto se encaminhava para Salvador, trocou mensagens com o suposto médico e estava providenciando o dinheiro. “Já ia fazer a transferência, meu sobrinho estava pronto para realizar. Porém, vi no mural o aviso e falei na hora para ele e minha irmã segurarem”, diz. 

Maria Cristina, irmã de Miguel, não conversou com a reportagem, mas trocou diversas mensagens com o homem  que se passava por médico, que insistia e pressionava para que a transferência fosse feita. Ele chegou a informar duas contas diferentes, com números de CPF  e destinatários distintos. 

Em um dos áudios enviados aos dois, o golpista tenta induzir o pagamento e explica como seria feito o pagamento para a realização dos exames. “A clínica é parceira nossa e trabalha há mais de 10 anos no tratamento do seguimento hospitalar. Pode fazer o pagamento. A clínica não trabalha com dinheiros em mãos, mas diretamente nos dados bancários da clínica”, fala em mensagem de voz, insistindo pelo depósito. 

Em um dos áudios enviados aos dois, o golpista tenta induzir o pagamento e explica como seria feito o pagamento para a realização dos exames. “A clínica é parceira nossa e trabalha há mais de 10 anos no tratamento do seguimento hospitalar. Pode fazer o pagamento. A clínica não trabalha com dinheiros em mãos, mas diretamente nos dados bancários da clínica”, fala em mensagem de voz, insistindo pelo depósito. 

Quando a família percebeu do que se tratava, ainda na terça-feira, registrou um boletim de ocorrência através da central da delegacia virtual da Polícia Civil da Bahia. Procurada para informar se investiga o caso, se o suspeito já foi preso e mais detalhes das apurações, a polícia não respondeu até o fechamento desta reportagem.

A Sesab, porém, já trabalha com a possibilidade de que o processo de obtenção dos dados pelos golpistas possa ter contado com a apoio de alguém do hospital. “Caso seja comprovada a participação de algum colaborador, a Unidade tomará as medidas cabíveis e o responsável responderá conforme previsto”, informa, ressaltando que o suposto médico não faz parte do quadro de profissionais do Ana Nery. 

A reportagem também tentou contato com o suspeito através do número que utilizou para contatar as vítimas, mas não teve as ligações atendidas.

Cuidados fundamentais

Em casos assim, a recomendação das autoridades de segurança é que os cidadãos procurem pontos presenciais de instituições que os golpistas alegam ter vínculos para evitar prejuízos. Como no caso das famílias dos pacientes, é importante contar com informações seguras e que saiam da fala de alguém por ligação ou mensagem de aplicativo. 

Mesmo quando caso é parecido com o de Miguel, onde os valores não foram transferidos e não houve qualquer tipo de prejuízo financeiro, é preciso informar a polícia para que os golpes, que tendem a continuar sendo aplicados, possam ser interrompidos.

Advogado especialista em Direito Digital, Leonardo Britto explica que práticas como essas precisam ser denunciadas. Mais do que isso, ele orienta que, quando possível, a denúncia e o boletim de ocorrência sejam feitas em delegacias especializadas em crimes cibernéticos e virtuais. 

“Algumas pessoas tem dificuldade de ir na delegacia, mas hoje tem a opção de registro de ocorrência de maneira virtual ou numa física normal. No entanto, se puder fazer na delegacia de crimes virtuais, é o ideal. Nessa delegacia, o inquérito vai andar com mais celeridade”, afirma 

Sobre quem acaba transferindo o dinheiro, Leonardo explica que, na maioria dos casos, é bem complicado reaver o dinheiro por diversas circunstâncias. “Tem caso que o beneficiário da conta que recebe os valores não sabe que tem isso aberto e que está sendo movimentado. Dá pra reaver, quando de forma imediata em questões de minutos, comunica a instituição financeira sobre o golpe e ela pode bloquear a conta de quem recebeu”, indica ele.

Relembre outros casos semelhantes na Bahia

Salvador – As Obras Sociais Irmã Dulce (Osid) emitiram uma nota, em maio, sobre tentativas de golpe que estavam sendo aplicadas em unidades de saúde no estado. Através de ligações telefônicas, golpistas usavam o nome de médicos e demais colaboradores da instituição para solicitar, aos familiares dos pacientes internados, dinheiro para a realização de exames e outros procedimentos de saúde. A Osid enfatizou que não cobra por nenhum tipo de serviço prestado, pois o atendimento à população é 100% gratuito, sendo realizado exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). 

Ilhéus – O Hospital Regional Costa do Cacau (HRCC), em Ilhéus, também alertou para os golpes. Em junho, eles informaram que todos os serviços são ofertados gratuitamente, sem nenhuma cobrança de qualquer serviço prestado na unidade, conveniada 100% SUS, integrante da rede da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab). “Por esse motivo, pacientes e familiares devem estar atentos para golpes, com pedidos de pagamentos de exames, cirurgias, consultas, entre outros”, informou. 

Conquista – O Hospital Geral de Vitória da Conquista e o Hospital IBR também divulgaram, em maio, alertas para a população que usa os serviços dessas unidades de saúde. Segundo nota divulgada na ocasião, os golpistas utilizavam o nome dos hospitais para realizar cobranças indevidas, por meio de mensagens e ligações telefônicas.

Fonte: Correio.

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