Chef baiana ajuda a arrecadar mantimentos para soldados em Israel: “Fui dormir em festa e acordei em guerra”
A chef de cozinha baiana Katia Waxman viu sua rotina mudar drasticamente nos últimos dias na cidade de Tel Aviv, em Israel, onde mora há 34 anos. Ela contou em detalhes, ao Bahia Notícias, como tenta fazer sua parte para ajudar os soldados do país que está há quatro dias enfrentando uma forte ofensiva do grupo terrorista Hamas: “Fui dormir em festa e acordei em guerra.”
Katia relatou como foi sua experiência no momento em que tudo começou no local. “Eu fui dormir em uma sexta-feira, que foi um feriado que celebra a vida [Yom Kippur, o Dia do Perdão], fomos dormir em paz. Acordei às 6h da manhã com a sirene. Nós estávamos sendo bombardeados, estavam jogando mísseis da Faixa de Gaza para dentro de Israel”.
Apesar do conflito entre Israel e Palestina, que envolve política e religião, se estender há mais de 70 anos, a brasileira disse que os israelitas não estavam esperando o ataque.
Waxman explicou ainda que, enquanto Israel tem uma prática de informar a população da Faixa de Gaza antes de enviar qualquer míssil, os ataques do Hamas foram “completamente inesperados”. “Quando o Estado [Israel] lança de volta os mísseis, ele avisa por telefone, pela imprensa Palestina, que vai atacar. Então os palestinos, os civis, têm a oportunidade de sair para não serem feridos. Fora isso, já desenvolveram uma tecnologia muito grande de, por exemplo, se um terrorista está no quinto andar e tem mais três andares em cima, menos quatro andares em baixo, já chegou em um ponto de perfeição que ele pode atacar aquele andar, o prédio não cai. Então o míssil de Israel que é lançado para pegar um terrorista é muito exato”, afirmou.
Além da guerra, a chef de cozinha ressaltou que Israel vive uma onda de protestos contra o governo atual, que, segundo ela, está tentando modificar o sistema para uma ditadura de “hiper direita”. Com isso, a população tem se manifestado há cerca de 30 semanas, voltando todas as preocupações em “proteger a democracia”. “É a única democracia do Oriente Médio”.
“Israel estava fragilizado com todos esses protestos e o Hamas, esse grupo terrorista, se aproveitou disso”, declarou.
“Ninguém estava esperando. Eu fui acordada pela sirene, eu corri para o bunker, o abrigo antiaéreo. A gente escuta o Domo de Ferro, que alcança o foguete no ar, mas a gente ainda consegue escutar o ‘bum’, por que é muito forte e também tem o tremor. E aí, depois disso tem que esperar 10 minutos para poder sair do abrigo antiaéreo”, explicou.
Katia detalhou ainda que os abrigos são construídos em todas as casas do país, sendo uma medida obrigatória por lei. É necessário ter pelo menos um quarto, tanto em apartamentos, quanto em casas, feito totalmente de cimento armado, para as pessoas ficarem e se protegerem em casos de ataques.
“Quando a sirene toca, você tem três minutos para chegar no abrigo. O país é tão pequeno que em três minutos da Faixa de Gaza são 200 km de Tel Aviv. Em três minutos chegam em Tel Aviv alguns mísseis”, disse, acrescentando que apesar do Domo de Ferro, alguns mísseis ainda caem no chão, por serem lançados em grande quantidade.
A baiana revelou que a situação na Faixa de Gaza é bem crítica e que os extremistas têm torturado os civis. Em relatos, ela descreveu que recebeu um telefonema de um colega, que integra o exército de Israel, que contou que foram encontrados 40 bebês decapitados no local, corpos de famílias de pai, mãe e filhos, que foram queimados vivos e foram encontrados abraçados. “Você pode imaginar uma coisa pior que isso? É essa crueldade desse grupo.”
A chef de cozinha diz que a sua família do Brasil tem ligado até cinco vezes ao dia com a preocupação de saber sobre a situação de Kátia no país. Ainda assim, ela ainda relatou que a comunicação não foi afetada, e que as pessoas só têm evitado sair de casa por uma orientação do próprio exército. Ainda assim, passou o dia ajudando a arrecadar mantimentos para os soldados israelenses, e também trabalhando em um restaurante local para preparar alimentos para os combatentes.
“Não tivemos nenhuma interrupção da vida. Supermercados estão abertos, as pessoas não saem nas ruas porque é o que o exército pede, é menos uma preocupação, que é defender as pessoas dos mísseis. Os hospitais estão cheios, nós temos até agora 1.200 mortos, 2.500 feridos, mais ou menos. Só que cada dia aumenta mais o número de mortes, porque cada dia eles tão descobrindo mais cadáveres. Estão varrendo o país.”
Kátia também esclareceu que mesmo com a guerra e a sua mãe, junto ao seu irmão e suas sobrinhas, estando no Brasil, ela não pensa em voltar ao país onde nasceu. “Eu não posso. Não posso nem ficar com isso na cabeça.”
“Eu nunca vou ser israelense. Vou dizer, meus filhos são israelenses, eles se sentem israelitas, eu sempre vou ser a brasileira que mora em Israel. A minha saudade do Brasil é sempre muito grande, mas a minha vida é aqui, os meus filhos e os meus netos estão aqui, então nunca vai passar, não passou, apesar de que minha mãe me liga cinco vezes por dia, minha filha vem para cá, pega meus meus netos e vem para cá, ela sabe que eu não vou, eu não posso deixar a vida aqui”, concluiu.
Fonte: Bahia Notícias.