Pesquisadores alertam oftalmologistas sobre diagnóstico de forma rara de Alzheimer
Problemas visuais podem indicar formas atípicas de Alzheimer, como a atrofia cortical posterior, que se manifesta por dificuldades visuais precoces e acentuadas. “Frequentemente, pacientes consultam oftalmologistas com dificuldades para enxergar em profundidade, descer escadas, ver detalhes de objetos, ou ler uma folha de papel. Em casos avançados, a pessoa pode se comportar como se fosse cega, tropeçando ao caminhar,” explica Elisa de Paula França Resende, neurologista e doutora em neurociências pela UFMG, onde também leciona e coordena o Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da ABN.
“Às vezes, os pacientes mudam de óculos, passam por cirurgias de catarata, mas não melhoram. Isso é um grande sinal de alerta,” destaca Resende.
Um estudo publicado na revista Scientific Reports em maio revelou que pessoas com processamento visual mais lento têm maior risco de desenvolver demência precocemente. Os pesquisadores sugerem que exames de sensibilidade visual podem identificar pacientes suscetíveis a condições neurodegenerativas como Alzheimer.
Nas formas atípicas da doença, a progressão é rápida, com dificuldades de memória e perda de funcionalidade surgindo em dois ou três anos. Resende aponta que o diagnóstico de atrofia cortical posterior deve ser rápido, mas muitos oftalmologistas não orientam os pacientes a procurarem um neurologista.
“É uma questão de conscientização. O paciente se sente perdido até que alguém sugira a consulta com um neurologista, e então é diagnosticado,” explica a médica.
O tema foi discutido no Brain Congress 2024, realizado no Rio de Janeiro. Especialistas enfatizam que, no caso da atrofia cortical posterior, cabe ao oftalmologista suspeitar de problemas neurológicos e encaminhar o paciente. Eles defendem maior integração entre oftalmologistas e neurologistas.
“É essencial que oftalmologistas reconheçam essa forma atípica de Alzheimer, a atrofia cortical posterior, cujos sintomas visuais frequentemente levam os pacientes a procurar um oftalmologista antes de um neurologista ou geriatra,” afirma Paulo Caramelli, neurologista e professor da UFMG.
O diálogo entre neurologistas e oftalmologistas deve se intensificar, especialmente na neuroftalmologia, que trata de problemas visuais relacionados ao sistema nervoso central. “Na Associação Internacional de Pesquisa em Doença de Alzheimer, existem grupos que consideram o olho como biomarcador para o diagnóstico de Alzheimer. Esse diálogo é crucial,” comenta Caramelli.
Ele também aconselha que pacientes se informem sobre o assunto e busquem avaliações tanto oftalmológicas quanto neurológicas. “É importante distinguir problemas de acuidade visual de questões de processamento visual,” orienta.
A atrofia cortical posterior é uma das quatro formas atípicas de Alzheimer, que representam 15% dos casos no mundo, sendo mais comuns em pessoas com menos de 65 anos. As outras formas são afasia progressiva primária logopênica (com dificuldades de linguagem como sintoma principal), variante comportamental e disexecutiva (caracterizada por alterações comportamentais como apatia e desinibição), e síndrome corticobasal (com sintomas como parkinsonismo assimétrico e incapacidade de reconhecer objetos pelo toque).
Os 85% restantes dos casos referem-se à forma comum de Alzheimer, marcada por comprometimento da memória, repetição de perguntas, perda de objetos e esquecimentos de compromissos.