Terra da alegria? Bahia tem índices de ansiedade e depressão acima da média nacional
O mês de janeiro, marcado pela campanha Janeiro Branco, voltada à conscientização sobre a importância da saúde mental e emocional, chega ao fim com um alerta preocupante para a Bahia. Apesar de ser conhecida como a “terra da alegria”, com seu verão vibrante e um dos maiores carnavais do mundo, o estado registra índices de ansiedade e depressão superiores à média nacional.
De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), 14,9% dos baianos apresentam sintomas de ansiedade, enquanto 8,3% convivem com a depressão. Esses números superam os índices nacionais, que são de 12,2% e 6,5%, respectivamente, e refletem desafios sociais que impactam o bem-estar da população.
A influência da luz solar na saúde mental
A exposição à luz solar é um fator essencial para a saúde mental, pois contribui para a produção de serotonina, neurotransmissor responsável pela regulação do humor, além de estimular a síntese de vitamina D, fundamental para o bom funcionamento do cérebro. Estudos publicados no Journal of Affective Disorders indicam que a deficiência dessa vitamina pode estar associada ao desenvolvimento de sintomas depressivos. Apesar de Salvador ser uma das cidades com maior incidência de luz solar no país, isso não impede o aumento dos casos de ansiedade e depressão, demonstrando que outros fatores têm forte influência na saúde mental da população.
Os desafios do dia a dia e a saúde mental
Acreditar que apenas grandes traumas afetam a saúde mental é um equívoco. O psicólogo Vinícius Farani explica que diversos aspectos podem ser determinantes para o bem-estar emocional, como relações familiares, estresse no trânsito, pressões no ambiente de trabalho e dificuldades financeiras. “O acúmulo dessas pequenas dificuldades pode gerar um desgaste progressivo. Muitas vezes, pensamos que os transtornos psicológicos surgem de eventos traumáticos marcantes, mas, na realidade, eles podem ser consequência do impacto diário das adversidades”, destaca Farani.
Essa visão é reforçada por estudos da Fiocruz (2022), que apontam que condições adversas prolongadas aumentam significativamente os riscos de transtornos psicológicos como ansiedade e depressão.
Fatores sociais e econômicos que afetam a Bahia
Problemas estruturais como pobreza, desemprego, violência e precariedade nos serviços públicos são desafios que afetam diretamente a qualidade de vida dos baianos. O desemprego, por exemplo, encerrou o segundo trimestre do ano passado em 11% no estado, a segunda maior taxa do país, ficando atrás apenas de Pernambuco, segundo dados do IBGE.
Já em Salvador, que concentra 17% da população baiana, os índices de renda, emprego e segurança pública estão entre os piores do país, quando comparados às demais capitais. Essa realidade foi destacada pelo Mapa das Desigualdades entre as Capitais, divulgado pelo Instituto Cidades Sustentáveis (ICS) no ano passado.
Diante desse cenário, a conscientização sobre a importância da saúde mental se torna ainda mais essencial. Além do apoio individual, é fundamental que políticas públicas sejam fortalecidas para reduzir os fatores de risco e oferecer suporte à população que enfrenta essas dificuldades diariamente.