Hipertensão segue como uma das principais causas de morte materna no Brasil, aponta estudo da Unicamp
Mesmo sendo prevenível, a hipertensão continua figurando entre as principais causas de mortalidade materna no Brasil. Um estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com base em dados de 2012 a 2023, revelou que mulheres negras, pardas e indígenas têm risco significativamente maior de morrer durante a gestação, o parto ou o puerpério em comparação a mulheres brancas — diferença atribuída não à predisposição genética, mas às desigualdades sociais e ao racismo estrutural presente no sistema de saúde.
Segundo o levantamento, foram registradas quase 21 mil mortes maternas no período analisado, sendo 3.721 associadas diretamente à hipertensão. A média foi de 11,01 óbitos a cada 100 mil nascimentos, com o maior número em 2022 e leve recuo em 2023. Os efeitos da pandemia de Covid-19, que comprometeu a qualidade da assistência obstétrica, ainda repercutem nesses índices.
Outro fator de risco identificado é o início tardio do pré-natal. Em média, as gestantes iniciam o acompanhamento apenas na 16ª semana de gestação — realidade ainda mais comum em áreas distantes dos grandes centros urbanos. A demora reduz as chances de prevenir complicações, mesmo diante de tratamentos eficazes e acessíveis.
O estudo destaca que o uso precoce de medicamentos simples, como ácido acetilsalicílico e carbonato de cálcio, pode reduzir em até 40% o risco de desenvolver complicações hipertensivas, desde que iniciados antes da 16ª semana de gestação. Embora recomendados pelo Ministério da Saúde, o acesso aos remédios ainda é limitado por falhas na distribuição e na capacitação de profissionais da saúde.
Mulheres com mais de 40 anos também apresentam maior vulnerabilidade. Os pesquisadores alertam ainda que parte das mortes oficialmente atribuídas a hemorragias pode ter como causa subjacente a hipertensão, ampliando o impacto da condição sobre a mortalidade materna no país.