Não é hora de reabrir o comércio, diz chefe do comitê científico do Consórcio Nordeste
Não é o momento de reabertura de atividades econômicas e relaxamento do isolamento social no Brasil, avalia o médico e neurocientista Miguel Nicolelis, que coordena o comitê científico do Consórcio Nordeste.
“A nossa sugestão era de que, enquanto você tiver leitos ocupados com taxa de 80% e ainda tiver curvas ascendentes, você tem que manter [o isolamento]”, disse ele em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.
Professor catedrático da Universidade Duke, na Carolina do Norte, no EUA, Nicolelis afirma que o fator mais prejudicial ao controle da pandemia no país é a completa falta de coordenação nacional. “É uma inépcia completa. Se eu tivesse um mapa de risco da inépcia em vez do mapa de risco do coronavírus, o mapa seria totalmente vermelho”, diz.
“Os gestores têm informações outras. São eles que operam e são eles que decidem. O comitê se posicionou claramente. Estamos recomendando que o nível do isolamento social seja aumentado. Caiu abaixo de 50. Em alguns lugares do Nordeste, caiu abaixo de 45 em alguns dias”, diz o especialista.
Na entrevista, Nicolelis também afirma que o cenário será uma “tempestade perfeita” para o esgotamento de vagas de emergência nos hospitais públicos.
“Haverá crescimento da demanda de leitos de UTI quando essa tempestade perfeita ocorrer. Já começou. Estamos nela, mas não explodiu da maneira que ela provavelmente pode explodir.”
“O momento, como nos posicionamos claramente, no boletim 8, é de manter e aumentar o isolamento social. Funcionou no mundo todo”, reforça o cientista, que não descarta a possibilidade de uma segunda onda da pandemia no Brasil.
“Uma segunda onda é um fenômeno conhecido desde que a humanidade tem documentação de pandemias. Desde o Império Romano até idade média na Europa, a peste do século 14 e até a pandemia de 18. Pesquisadores renomados dos EUA levantaram o alerta de que o país deveria se preparar porque tem três meses para se prepararam para uma eventual segunda onda. E não vai ser a última também. Esse vírus parece ser bem resiliente. Ele está se espalhando numa proporção muito grande e tem toda a chance de permanecer conosco durante muito tempo”, afirma.