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Reajuste intensifica descontentamento dos usuários do ferryboat

A implementação do aumento nas tarifas do sistema de ferryboat, vigente desde o dia 10 deste mês, intensificou a insatisfação dos usuários com o transporte gerido pela Internacional Travessias Salvador (ITS). O reajuste, que encareceu as passagens sem trazer melhorias no serviço, gerou descontentamento. Entre as principais reclamações dos passageiros frequentes, tanto pedestres quanto motoristas, estão o atraso nas saídas, a sujeira das embarcações, a demora na travessia e as longas filas nos feriados.

O motorista de aplicativo Rubens Guimarães Filho, de 58 anos, integra um grupo de WhatsApp para compartilhar informações sobre a travessia da Baía de Todos-os-Santos. Ele busca identificar os melhores horários e métodos de embarque. “Serve para saber sobre o movimento, a fila, a demanda, tanto aqui quanto da lancha. E há muitas reclamações sobre o ferryboat”, comenta.

Rubens conversou com A Tarde enquanto aguardava para pagar o embarque de seu veículo na última quarta-feira. Ele normalmente prefere atravessar como pedestre, mas naquele dia precisava levar seu Fiat Cronos, considerado “auto grande”, com tarifa de R$ 76,40 de segunda a sexta, aumentando para R$ 108,00 nos finais de semana e feriados.

“É muita sujeira, muita demora, agendam para 9h e sai 9h30, 9h20, quando sai”, lamenta, mencionando colegas que já enfrentaram filas de muitas horas, o que ele se recusa a fazer. Na quarta-feira (15), o ferry das 9h em que embarcou não atrasou.

Apesar da opção de compra com hora marcada, a tarifa elevada afasta muitos usuários. Para Rubens, o preço subiria de R$ 76,40 para R$ 99,30, um acréscimo de 30%, percentual aplicado a toda a tabela de compra com hora marcada, disponível apenas para veículos.

“O atendimento é péssimo, às vezes se gasta meia hora na fila para pagar e o ferryboat é sujo, sem limpeza, e o banheiro é imundo”, reclama Jaida Machado Soares, 46, moradora de Salinas da Margarida e usuária frequente do sistema, como pedestre. Ela ainda menciona a longa travessia, chegando a 1 hora e 20 minutos nas embarcações mais antigas.

Os problemas de limpeza são os primeiros apontados pelo aposentado Josimar Nascimento Batista, 63, pedestre que atravessa uma ou duas vezes por mês com sua esposa para descansar em Mar Grande. Ele menciona que “algumas viagens duram exatamente uma hora”, referindo-se às embarcações mais recentes.

A Internacional Travessias Salvador declarou, em nota, que as equipes de limpeza trabalham continuamente nos ferries e terminais para “assegurar a limpeza e higienização dos ambientes com presença de passageiros”. Informou também que, neste ano, a limpeza passou a ser realizada durante as viagens e é intensificada nos feriados e operações especiais.

Sobre as embarcações, a ITS informou que realiza constantes manutenções corretivas e preventivas, além das docagens, uma reforma mais ampla dos barcos, que inclui o sistema elétrico, hidráulico, climatização, motores, cobertura, casco e pintura. Os ferries Dorival Caymmi, Ivete Sangalo, Anna Nery, Maria Bethânia e Pinheiro foram reformados nos últimos dois anos; a do Rio Paraguaçu está em andamento e a do Zumbi dos Palmares começará até julho. Além disso, a equipe de manutenção foi ampliada com 20 novos profissionais trabalhando em turnos noturnos, garantindo plantão 24 horas.

A ITS afirma que trabalha incansavelmente para manter suas embarcações e terminais operacionais, visando a prestação de serviço público eficaz, contínuo e eficiente.

A Agerba (Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia) enfatiza que o reajuste anual das tarifas está previsto no contrato de concessão e é calculado com base no preço do diesel e no IPCA. Houve uma repercussão significativa com a nova tabela de tarifas, especialmente para bicicletas, mas a Agerba corrigiu o erro rapidamente, ajustando o preço de R$ 9,60 para R$ 9,80 para bicicletas, e de R$ 6,50 para R$ 6,60 para pedestres, um reajuste de 2,19% na tabela.

O ferryboat deixará de ser a única opção para cruzar a Baía de Todos-os-Santos de carro com a conclusão da ponte Salvador-Itaparica, prevista para 2028. Embora ainda distante, os trabalhos de sondagem em terra e em águas rasas para a construção já começaram, com previsão de mobilização do canteiro de obras para o próximo ano.

Com 12,4 km sobre o mar, a ponte será a maior da América Latina. O empreendedor Daniel Fontes, 41, acredita que a ponte facilitará os deslocamentos entre Itaparica e cidades vizinhas. “Voltei a acreditar”, comenta, esperando que a ponte valorize sua casa na ilha.

Os impactos ambientais da construção da ponte são monitorados pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), em colaboração com a Seinfra, o Ministério Público e a Concessionária, para avançar nas ações de licenciamento e compensação ambiental, visando ao desenvolvimento econômico e socioambiental da Baía de Todos-os-Santos.

A assessoria de comunicação do Inema destacou algumas condicionantes importantes, como a proposta de um local alternativo para a praça do pedágio, a fim de distanciá-la do manguezal; a apresentação de um estudo de diagnóstico da fauna e a coleta de dados primários na Área Diretamente Afetada; e a garantia de que as comunidades tradicionais da ilha de Itaparica mantenham acesso aos pontos de mariscagem e pesca, à praia e aos deslocamentos internos.

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