Mensagens encaminhadas por capitão da PM-BA mostram participação em esquema de venda de armas para facções; veja prints
Uma investigação da Polícia Federal e do Ministério Público estadual (MP-BA) revelou, por meio de mensagens de texto interceptadas, a participação do capitão da Polícia Militar da Bahia, Mauro das Neves Grunfeld, em um esquema de compra e venda de armas para facções criminosas. Na noite de quarta-feira (17), ele recebeu liberdade provisória por decisão do juiz Eduardo Ferreira Padilha, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Juazeiro.
Segundo a TV Bahia, o capitão integrava um grupo criminoso que adquiria e vendia armas para facções em todo o estado, com boa parte das armas destinadas a criminosos no bairro do Calabar, em Salvador. Além de Grunfeld, outros oito PMs e um ex-PM estão envolvidos.
Mensagens interceptadas de 2023 mostram conversas entre Grunfeld e o PM Gleybson Calado do Nascimento, também envolvido no esquema. Em uma delas, Mauro pede a Gleybson que envie uma chave Pix e o valor de uma mercadoria.
Em 29 de setembro do ano passado, Grunfeld se mostrou como vendedor de materiais, enviando a mensagem: “Apareceu pedido de 5 cartelas de 7.65”, referindo-se a cartuchos de pistola. Em 1º de outubro, Gleybson ofereceu um revólver ao capitão por R$ 4,5 mil.
A TV Bahia teve acesso a um documento sigiloso que revela que Grunfeld transferiu mais de R$ 67 mil para Gleybson entre 18 de fevereiro de 2021 e 13 de fevereiro de 2022.
Mauro das Neves Grunfeld foi alvo da Operação Fogo Amigo, deflagrada pela Polícia Federal em maio. A ação ocorreu em várias cidades baianas, incluindo Salvador, Santo Antônio de Jesus, Porto Seguro e Juazeiro, além de Petrolina (PE) e Arapiraca (AL). Ao todo, 19 pessoas foram presas, incluindo 10 militares.
Grunfeld foi alvo de mandados de prisão preventiva e busca e apreensão, executados na Academia da Polícia Militar, em Boa Viagem, e em sua residência, no bairro da Graça, em Salvador. Os agentes encontraram apenas uma pistola não registrada na casa e realizaram a prisão em flagrante.
Nesta quarta-feira (17), o juiz Eduardo Ferreira Padilha, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Juazeiro, concedeu liberdade provisória a Grunfeld. O juiz argumentou que Grunfeld não desempenhava um papel de liderança na organização criminosa investigada e, devido à ausência de antecedentes criminais, ele poderia responder ao processo em liberdade.
O Ministério Público manifestou-se contra a liberdade provisória, afirmando que as circunstâncias que justificaram a prisão preventiva permaneciam inalteradas. O juiz, no entanto, destacou que a prisão preventiva deve ser uma medida excepcional, aplicável apenas quando houver evidências concretas de perigo à ordem pública ou à instrução processual, citando um precedente do STJ que permite a substituição da prisão preventiva por medidas cautelares para réus sem papel de destaque em facções criminosas.
Grunfeld terá que comparecer a todos os atos processuais, não poderá alterar seu endereço sem informar à Justiça com antecedência, e deve evitar contato com pessoas relacionadas aos fatos investigados. O não cumprimento dessas medidas resultará em uma nova prisão preventiva.