Após projetos fracassados e 14 anos sem barracas, orla será entregue a empresa privada
Quando se fala em Salvador, é comum imaginar suas praias como o principal ponto de lazer, com areias cheias e banhistas aproveitando as águas mornas dos mais de 100 km de litoral, num cenário de verão constante, certo? Na verdade, não. Esse cenário desapareceu há 14 anos. Desde a remoção das barracas de praia e, principalmente, pela falta de uma alternativa adequada ou tentativas frustradas, grande parte da orla da capital baiana se tornou um espaço vazio, sem banhistas, sem atividades econômicas, lazer ou cultura.
Agora, 14 anos depois, surge um projeto que promete revitalizar a orla de Salvador, com a esperança de trazer até o charme de Copacabana. Com essa ambiciosa proposta, a prefeitura decidiu realizar uma consulta pública para que a população possa opinar e sugerir mudanças para um projeto que visa transformar partes da Avenida Octávio Mangabeira. No entanto, não se trata apenas de uma transformação: o plano é entregar a gestão e execução das obras à iniciativa privada, que poderá explorar a área por 30 anos. É o modelo de concessão, como já acontece com as BRs 116 e 324 na Bahia, administradas pela ViaBahia desde 2009, em um contrato que vai até 2034.
A concessão prevê a reforma e manutenção da orla, com a construção de 34 novos quiosques e 70 barracas, ao longo das praias da Boca do Rio, dos Artistas e de Pituaçu. O trecho concedido tem 3,5 km, e a escolha da empresa responsável será feita por concorrência, com critérios de “melhor técnica” e “maior preço” de outorga, ou seja, o valor pago pela empresa à prefeitura. O edital também exige que a concessionária mantenha os permissionários e os 60 comerciantes informais que já atuam no local. Porém, a grande preocupação é se, desta vez, a revitalização será efetiva. Afinal, não é a primeira tentativa de transformar a orla com inspiração no Rio de Janeiro, e que acabou prejudicando ainda mais a de Salvador, deixando os comerciantes desamparados.
No verão de 2015, o então prefeito ACM Neto lançou um projeto de requalificação que incluía a construção de quiosques nas praias de Itapuã, Piatã e Jardim de Alah. Essas novas estruturas, feitas de vidro e alvenaria, destoavam completamente do ambiente da orla de Salvador e dos hábitos dos banhistas. Três empresas construíram e alugaram os espaços, que logo ficaram sem público. A expectativa agora é que os erros do passado não se repitam.